Sunday, June 17, 2012

houve um tempo ...

"Escravos" da visão
muitas vezes apercebemo-nos, na escrita, que somos "escravos da visão". Isto é, tendemos a descrever muito mais aquilo que vemos do que aquilo em que tocamos, cheiramos...A visão é dos nossos sentidos mais imediatos e aquele que nos leva a retar mais informação. No entanto, um dos grandes desafios da escrita está em "ver" muito mais, sentir muito mais, tocar, cheirar, saborear e escutar tudo aquilo que está ao nosso alcance, em prol da imaginação.


desta vez uma frase apenas, mantendo os sete minutos.


Houve um tempo em que a minha janela se abria para...
CML


houve um tempo ... Parte II

AML


Houve um tempo em que a minha janela se abria para fora. Naquele tempo em que me servia para fugir às pressas do cajado do meu pai cuja força a quebrou um dia.
Mandei-a arranjar ao sr José da oficina enquanto servia um capri-sonne fresco numa manhã quente, amarela e lenta.
Pôs-me, o raio do homem, a janela a abrir para dentro e foi desde então que pude provar diariamente - na pele macia que só a minha longa idade recorda - o forte impacto do não amor.


Houve um tempo em que a minha janela se abria para o coração:

Punha-me de manhã como carochinha à espera de vê-lo passar, 

nervosa, ansiosa por o beijar. 
E então ele chegava, muitos beijos me mandava e punha-se a apregoar.
" Já viram mulher mais linda que esta?! " 
E eu, modesta, só me dava para corar… 
Tenho saudades dos tempos em que,a janela,aberta,dava para namorar! 

Mrs.O


Houve um tempo em que a minha janela se abria...

... para um céu riscado de nuvens brancas, fôfas por vezes. e por vezes apanhava boleia com elas, e com elas viajava para outros lugares. Por vezes quase que tocava na cauda dos aviões, na ponta do arco-iris. Por vezes estremecia com os trovões e por outras andava aos trambolhões. Era uma alegria, pois eu não sabia que sempre que eu abria a minha janela acontecia a magia.


CML

"mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

Texto original de Cecília Meireles

e foi a partir deste texto que surgiu o exercío da imaginação/visão.

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